O quarto fechado e escuro. Pequeno até, mas suficientemente espaçoso para comportar a cama, o criado mudo e o pequeno guarda roupas. No teto, o ventilador roncava o zumbido oficial de todas as noites.
Independente do tempo, acostumara-se a dormir ouvindo o tec-tec das hélices cortando o ar. Quase uma canção de ninar para o garoto.
Deitara-se na cama vestindo um short de pijamas e nada mais, e cobrira-se até o pescoço. Debaixo da cabeça o travesseiro já começara a molhar-se - babava enquanto dormia, o rapaz.
E ali, deitado de olhos fechados, com a franja cobrindo-lhe uma parte do rosto, ele se ausentava de todo o resto do mundo. Rasgava todos os seus papéis sociais respirando calmamente, enquanto descansava de outro inevitável dia por ele vivido.
Não mais era o filho estranho que tanto intrigava os pais com sua introspecção demasiada. E não havia, dentro do quarto escuro, resquícios do amigo com quem sempre podia-se contar. O aluno de comportamento peculiar também desaparecia, dando lugar a nada mais que um garoto adormecido.
No vai e vem ritimado do peito desapareciam também todas as angústias e os orgulhos daquele menino, tão confuso e inquieto.
Seus questionamentos intermináveis e a certeza de só saber que nada sabia evaporavam-se e subiam até o teto do quarto, sendo talhados pelas hélices do ventilador.
Dormia.
Não era filho, amigo, aluno, questionador, inquieto, angustiado.
Simplesmente existia em sua vulnerável condição de ser humano vivo.
E nesse momento, botava abaixo todas as [hipócritas] máscaras que se deve usar, para que tudo ocorra segundo "a norma".
Seu momento de mais absoluta sinceridade.
E ele nem estava acordado para contemplá-lo.
[Aquelas idéias que surgem de repente no meio da festa + tarde tediosa de domingo + falta completa do que fazer = texto bobinho.]
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