sexta-feira, abril 08, 2005

Sobre café e cigar... ops, fotologs.

Eu voltando, mais uma vez, nesse assunto.
Não, não. Sobre café eu não costumo ter muito o que comentar não. Mas essa coisa de fotolog é algo que me rende algumas indagações. Contudo não são elas que vem ao caso agora.
Uma cafeteria [e há nome mais fresco pra se classificar um estabelicimento que esse? Acho que só "Clínica de Estética" mesmo.] daqui de Belo Horizonte tá expondo fotos de fotologguers brasileiros e de outros países. E pra fazer um trabalho de Circuitos Artísticos [matéria até bacana, mas que tem sido vítima de minha picaretagem inata] eu visitei a tal exposição.
Eu não entendo de fotografia, tampouco de arte, mas gostei bastante do que vi lá.
Muitas fotos bonitas, algumas bem criativas, outras poucas impressionantes.
Mas todas, de certa forma, traduzem o que eu creio ser o propósito pelo qual foi criado o tal fotolog.net: Divulgar fotos de quem sabe tirar fotos.

É fato que eu não tenho muito crédito pra dizer isso desde o dia em que eu virei a /lara_verde. Mas desconsiderem isso, e dêem uma olhada nos links abaixo, que levam a alguns fotologs dos quais saíram as fotos expostas lá no tal Café.

barra soso
barra daimon
barra tinoco
barra capute
barra felipebh


[Depois de ver essa exposição eu até fiquei pensando em por que diabos eu fiz um fotolog. Mas isso é assunto pra depois.]

terça-feira, abril 05, 2005

["Durmo, desperto, torno a dormir, torno a despertar, miserável existência." (Franz Kafka)]


Eu já cheguei a pensar que estava conformada com toda a minha mediocridade e tudo mais.
Acreditei que não havia muito problema em engrossar as estatísticas [desde as de emigrantes de Governador Valadares as de consumidores de sorvete de pistache] e só.
Já adotei a idéia de que as coisas tinham uma ordem natural para acontecer, e que era assim mesmo que tinha de ser, e pronto-acabou.

Eu só não sabia que ia me cansar tão rápido.
Da minha mesmice, da mesmice do que me cerca, da mesmice que me espera.
Como um condenado que, mesmo tendo as mãos e os pés livres, não desvia seu curso da forca.
Porque parece a mim que a mediocridade está encravada lá no fundo, e não há falsa modéstia ou falsos elogios que a impeçam de vir à tona hora ou outra.

Só agora vejo como é frágil, esse ego meu.
Fraco, e pateticamente insatisfeito.

domingo, abril 03, 2005

Adiantando o que será publicado daqui algum tempo no Jornal Oficina do Unileste:


" Era difícil fechar os olhos. Não se podia descansar tendo feito isso de tal maneira. Apesar de não ser a primeira vez, essa fora feita com as próprias mãos. Suas garras compridas ainda guardavam pedaços de carne humana em putrefação. Seu corpo exausto clamava por um leito, todavia, sua mente a impedia de poder aliviar-se de tal fardo. “ Sim, eu o matei.” Soava como um mantra, algo que a deixava, no mínimo, inquieta. Recorrer às drogas, “Por que não?!”. Já era desnecessário. Sentira algo como uma pancada na nuca, foi como uma força superior que a levou para outra dimensão.
Encontrava-se agora desnuda de toda culpa. Era simplesmente o ser, criação de uma força divina. Do amor... ou do ódio. Mas estava ali. Seu refúgio social se resumia apenas a um velho lençol, rasgado e, ainda, sujo de sangue. Estava ali... limpa, pura, longe de todo o corrompimento, distante do que pudesse lhe fazer mal. O que realmente tornara o instante prazeroso era a oportunidade de dormir em paz. Sozinha, em sua cama, não era preciso vender o próprio corpo, ou ser uma incansável ladra e assassina de corpos obesos, mortos pelo preconceito de uma mente livre de qualquer razão obviamente bondosa. Matava a sangue frio, geralmente com a ajuda de uma arma que recebera como pagamento por uma noite de prazer carnal egoísta.

Mas estava diferente. Pouco protegida, voltava a ser agora como fora um dia. Desfez de tudo (pouco) que tinha e retornou para a casa de seus pais. Os velhos amigos se tornaram novos mais uma vez. Descobriu que possuía sentimentos, e que poderia até se apaixonar. Era humana, aprendeu a chorar. Experimentou do amor, e dele não mais se desfez. Havia atingido o inefável, era impossível descrever o quão satisfatório se tornara viver. Não era mais preciso tapar a face, esconder sua existência. Seria constantemente uma pessoa normal.

Certo momento, ao entrar em seu quarto, após beijar seus pais, sentia-se preparada para dormir, mas decidiu, antes, abrir uma caixinha de música com que fora presenteada quando completou 15 anos. Ao abrir a caixa, encontrou a arma que seu mais fiel, porém não mais, cliente lhe dera.

Foi como voltar ao passado. As lembranças, que supostamente haviam se apagado, voltaram a atormentar sua mente. Experimentava agora, a efemeridade da paz. Chorava novamente, agora movida pelo ódio. Sentiu nojo de si, olhou-se no espelho e quis quebrá-lo. Seus cabelos, presos por uma fita branca, eram vistos novamente na cor vermelha, sujos com o suor de um deprimente corpo. Juntando os fatos, percebeu que seus pais a olhavam com desprezo, e todo o bom tratamento era justificado pela piedade. Lembrou-se dos olhares repudiosos de seus vizinhos e de quem a cercava, e sentiu raiva. Não lembrou do namorado, talvez fosse ele muito bom para ser memorado agora. Mas o ódio crescente a fez direcionar com as mãos suadas e trêmulas, e contra seu próprio peito, a arma. Não encontrou forças suficientes para manter-se em pé, mas o pouco que restava a fez puxar o gatilho, atirando em seu mísero corpo.

O estridente barulho imaginário a fez acordar com um certo desespero. Gostaria, de fato, que seu desejo pudesse,um dia, se tornar real. Sentiu-se pura, apenas por almejar sua própria felicidade. Suas mãos frias terminaram de rasgar o lençol que a cobria. E dessa vez, chorou de tristeza. Subitamente, porém, sorriu. Sorriu porque descobriu que poderia ser feliz. Descobriu que era possível olhar, era possível sonhar. "


Por Orlando Junior [vulgo /jinim]

Eu tenho orgulho desse menino.
Ele só precisa deixar de lado algumas frescuras e acreditar que sabe fazer essas coisas, deveras.
Num é?