[Para o 17º Concurso Maldito, de tema Cosmogonia]
As pernas iam dobradas, a salientar um joelho que servia de apoio para as mãos. Pouca coisa acima, as coxas antecediam um corpo que se curvava prá acomodar-se ao pequeno espaço. E no que viria a ser o topo do todo, a cabeça encolhia-se em espera confortável.
Ali o tudo ainda era turvo, os sons ainda eram longe; esboços de melodias que, mais tarde, viriam a ser reconhecidas.
Aquela placidez confusa, contudo, dava sinais de sua finitude. As paredes pareciam raivosas ao comprimí-lo daquela maneira, ao tratá-lo como ferida com urgência de ser expurgada: não cabia mais.
Cabeça primeiro. Ombros, tronco, pernas e, por último, pés.
Neste recém universo era luz demais, era muito barulho, era frio que cortava-lhe a pele frágil e ele não sabia o que haveria de fazer.
Experimentou inspirar um pouco de ar com a boca, e estreou seus pulmões e estranhou sua nova vida e quis responder àquilo tudo.
Foi quando, sem surpreender a ninguém, contraiu a pequena face e chorou com a alma, pressentindo ingenuamente toda a vida que ainda iria caber naqueles, poucos centímetros, naquele tiquinho de quilos.
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