Em algum canto obscuro da internet nós fomos codificados em sequências binárias e agora isso é tudo o que nós fomos. Num passado resumido a uma setinha que varre a caixa de e-mails em retrocesso a totalidade se partiu em 0 e 1, em sim e não, em presença e ausência, em somos e não somos.
O tempo que nos definia passou agora a ser um arquivo no qual vez ou outra um subject mais ameno bóia em meio à enxurrada de promoções de sushi, depilações a laser e backups de artigos acadêmicos, e é só isso.
Penso que a nossa modernidade ainda é muito desajustada; por sua síndrome de Funes ela quer guardar tudo, mas não sabe reter com o respeito devido os nossos amores passados, as nossas velhas histórias. Em sua arrogância, ela não permite que pintemos o passado com as mágoas e as glórias que nos convém; o que retorna prá nós a cada vez que afundamos no hábito doente de nos vasculharmos são arrobas desajustadas e textos escancarados (ali até os erros de digitação, até a pressa no tom).
Na promessa infalível e certeira dos códigos binários ou se é ou não se é. E a isso eu prefiro a minha memória casmurra, que inquere, manipula, tapeia, finge, e se frustra, no fim, ciente de sua empreitada falha: não vamos nunca recompor o que foi nem o que fui.
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