sábado, novembro 06, 2004

"Tomorrow Never Knows..."

As luzes eram muitas. E também eram muitas as pessoas, as bebidas, o barulho, o calor. Ainda assim, tudo se resumia a pouco.
Sendo assim ele a tratava como se fosse ela a única pessoa realmente importante. E ela fingia que não se importava. Ainda que as tragadas absolutamente sincronizadas denunciassem a ligação existente entre eles, ela fingia que eles tinham motivos para brigar. E os inventava partindo de pretextos absurdos. Pretextos esses que ele nunca duvidou serem bestas, serem meramente provocativos. "É puro amor..." ele pensava.
"É pra ver se ele realmente se importa.", pensava a garota. E novamente acendiam um cigarro, levavam-no a boca, e soltavam a fumaça de um jeito que, se ensaiado, não seria tão bonito, e tão perfeito.
Ela o amava, e ele se importava. Ambos tinham consciência disso, mas fingiam não ter. Porque, inconscientemente, sabiam que por mais que jurassem ser eterno o que sentiam um pelo outro, aquilo ali não duraria pra sempre.
Eram jovens. Minto. Eram muito jovens. E havia ainda tantas coisas prestes a acontecer, e a mudar o curso e o destino de tudo, que dizer "pra sempre", trazia consigo alguma coisa falsa, mergulhada em toda a incerteza que o amanhã traz consigo.
Por isso se contentavam em fingir, e em se apoiar no presente. No que viviam agora. Afinal, não seria isso o importante? Que se dane o amanhã, já que ele ainda não aconteceu.
A alegria acontece agora, a incerteza se manifesta agora. E a embriaguez? Se sente agora. O gozo também. O sofrimento. O "sai daqui que não quero ver tua cara mais!" é dito agora, num momento de pura raiva.
A vida, é agora. E se eles se amavam, agora, nesse instante, não havia motivo pra temer o amanhã. É verdade que não o conheciam, porém, quando é que haviam de conhecê-lo? Apenas quando o amanhã fosse o agora.
E se isso estava longe ou perto de acontecer, o referencial é que iria dizer. Longe de quando? Perto do que?
Evitaram então o questionamento. Se beijaram. Fingiram brigar. Deram mais um trago no cigarro, sincronizadamente, e se abraçaram, no pra sempre que era o agora.


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