[Para o 20º Concurso Maldito.]
Com a doce impaciência infantil, ele posa para a câmera do pai. Os bracinhos arqueados e o quase-sorriso já indicam a meia volta iminente que o corpo fará para, em seguida, correr com passinhos desajeitados a jogar areia nos cabelos nas pernas nos rostos - alheios - até chegar logo ao mar.
Aquele milésimo de segundo em que a luz mancha o papel com a pequena figura inquieta, circunscreve coisas que a vivência de toda uma vida não explicaria. A obra mais prima de todas a se eternizar numa foto.
Os olhos negros se contraindo, talvez em dúvida, por não saberem quanta vida ainda lhes fará molhar - tristeza cortando a alma ou felicidade descabida. A etérea pequenez que exige cuidados, mas que é sobretudo efêmera - tal qual éter.
A segurar a câmera, mãos que certamente serão refúgio quando o moinho do mundo reduzir as ilusões a pó. Tenra autoridade paterna, tão forte e tão sóbria, mas que, frente a um garotinho ansioso por correr pela praia, se faz apenas um bobo, um apaixonado, um pai, a ver nos cabelos molhados e nas bochechas rosas uma razão prá viver..
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