Eu vejo que o tempo passou nos poucos fios brancos que irrompem o mar preto e cacheado que você traz na cabeça. E engraçado é pensar que foi esse mesmo mar escuro que nos pôs em paridade tantas vezes. "São irmãs?", não, não somos. Ela é minha versão pequenininha. Eu vejo que o tempo passou, mas quando seus olhos viram dois risquinhos durante uma risada eu sei que ele não passou por nós; nós o enfrentamos, o selamos e ele às vezes nos joga quase que no pó do chão da arena, mas há alguma força escondida não sei onde que nos põe perto do topo de novo, nos enchendo duma audácia de caubói que até ri do touro montado depois. Lembra daquela vez? (Devíamos beber uísque prá minha metáfora ser mais verossímil, mas nossa falta de refino para nas caixas de cerveja e nas batucadas na mesa.)
Acho que por essas e por outras sabemos que nosso tempo não é perdido, porque nunca deixamos as coisas passarem por nós; sempre passamos por elas, e todo o fogo cruzado se cravou em memória - das mais bonitas às mais doídas - sempre pronta a irromper o nosso presente, sempre pronta a curar nosso tédio com uma risada no meio da rua, sempre pronta a nos lembrar que somos capazes.
Sem comentários:
Enviar um comentário