Vocês nos criaram à base de comerciais em que bastava um pão com margarina prá se ser feliz, e agora nós somos a geração que toma um remédio prá dormir e um prá acordar, um prá se concentrar e um prá não pensar em tudo ao mesmo tempo, além dos energéticos no fim de semana prá manter o sorriso durante a noite.
Vocês nos empurram a felicidade como um compromisso ao qual não podemos faltar, mas se esqueceram de avisar que ela nem sempre comparece, e então nós nos desesperamos, enfiados nos cantos mais escuros e nas bebidas mais fortes, tentando fazer com que ela mude seu curso e nos encontre de supetão na próxima esquina.
Todos estamos sempre agoniados e nervosos, batendo os pés por debaixo da mesa, roendo o toco das unhas e acordando com taquicardia porque vai que é hoje é dia, vendo sempre de relance o olhar escuro e líquido da felicidade passar através de nós, sempre os últimos a sermos escolhidos.
Vocês parem de nos empurrar filmes de gente que se encontra com seu amor da vida toda de uma noite em uma viagem num trem que cruza a Europa, porque - e isso eu vi em outro filme esses dias - já sabemos que ter esperança é mais triste e inútil que ter medo. E vocês inclusive parem com essa história de Europa porque a maioria de nós escolheu a profissão errada e não tem nem terá dinheiro prá ir nem ali em Ouro Preto no feriado.
Nós somos a geração que vai beber porque amar tá difícil, que foi escorraçada prá área de fumantes; a geração que vai fotografar, curtir e compartilhar todos os próprios fracassos.
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