Quero amanhã quando meu anseio por amanhã já tiver passado. Quando minhas bochechas não estiverem mais quentes e meus pés não estiverem mais tapeando o solo freneticamente querendo que a noite não termine assim, dentro do meu quarto, um maço vazio e duas garrafas de água prá encher.
Quero amanhã quando minha sessão de orientação já tiver passado, e quero que amanhã a orientadora me diga que está tudo bem, que temos tempo o suficiente e que eu entendi direitinho aquele autor que se emaranha na minha cabeça e me aponta a serventia da casa: sai dessa, menina, ainda é tempo de caçar seu rumo real.
Quero o amanhã depois de vários amanhãs, um acordar na praia com as frestas do sol entrando pelo vitral, eu sem poder me virar pro lado na cama porque alguém me impede, porque meus ombros estão todos queimados de tanto pegar praia e tomar caldo no mar, assim como um ontem que fora feliz, o ciclo repetitivo da vida, no qual se posta nossa esperança.
Quero amanhã mas sem ter que me deitar na cama e aceitar o dia de hoje, todas as minhas pequenas derrotas e vitórias, a mediocridade que nos assiste marcando vistos discretos no formulário que concerne ao enfadonho campeonato das pessoas vivas do mundo, esse mesmo campeonato que ninguém nunca ganhou mas que a gente jura que vai um dia premiar um dos nossos amigos: esse cara é legal demais.
Quero amanhã quando já for noite e eu já puder ser feliz de novo, descumprindo todas as minhas promessas - na boa, gente, eu não vou mais beber - quando eu já estiver rendida aos meus virtuosos vícios novamente, quando eu puder escorregar de um lado pro outro da cidade, amando cada bairro como se ele me recebesse com o frescor de uma criança que abre os braços, lutando contra as folhinhas do calendário estampado com santas que eu não conheço, odiando cada amanhecer que me põe de novo deitada na cama, tampando a cara com as mãos e franzindo os olhos, eu que sempre me recuso a ver a passagem dos dias.
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