Eu tenho um apreço especial pelas pessoas que me fazem rir. Não exatamente no contexto de uma conversa, aquela frase bem encaixada ou a expressão que melhor casa com o momento; não é isso. Eu amo as pessoas que me fazem rir no dia após.
Sentadinha no banco do ônibus, caçando a música que melhor ilustre o meu estado de espírito, eu muitas vezes desvejo a cidade e vejo aquela situação constrangedora da qual escapamos por pouco, e que nos deixou de frente com nossa única salvação de sempre: rir na frente do perigo. Eu lembro de quando a piada foi tão boa que eu cuspi cerveja em quem tava perto e mesmo assim não consegui parar de gargalhar prá pedir desculpas.
Reconstruo na minha frente aquele dia que nunca acabou e que acabou conosco no dia seguinte. Sorrio sozinha quando lembro de acordar com a cabeça pesando uma tonelada de confusões e dizer "Eu tô tentando lembrar...", prá ouvir sincronizadamente um "E eu tô tentando esquecer".
Eu acho que a minha felicidade reside nesses momentos nos quais, distantes do mundo, eu gargalho por dentro e rio de canto de boca enquanto driblo a calçada de uma rua qualquer. Os momentos em que o passado arromba meu presente monótono com um riso antes não percebido, mas que sempre ameaça invadir meu futuro assim que possível. Um relampejo, uma imagem fugaz de alegria que quebra o curso do meu cotidiano mais ou menos, me mostrando que tem sempre mais a acontecer.
Parece, olhando aqui de longe, que felicidade é esse passado em aberto, que se despede de mim com um até breve não cronológico, sem o gosto formal do nunca mais. A lembrança que eu consigo observar pela fresta apertada do futuro, e nunca a ferida violenta do passado interdito, do eu não quero mais.
O tempo que precisa passar prá gente entender que não é inimigo do passado; a gente só não quer a nostalgia que acena lá de longe com os sorrisos que nunca mais poderão ser dados.
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