quinta-feira, junho 22, 2006

Pergunte ao 'pó'.


[Camilla Lopez (Salma Hayek) e Arturo Bandini (Collin Farwell).]

Minha opinião sobre Pergunte ao Pó, um dos filmes que eu mais esperei nos últimos tempos, sem dúvida será contaminada pelo fato de que ele trata-se de uma adaptação cinematográfica do livro de John Fante que, se não é o, passa muito perto de ser um dos meus preferidos. Prá mim, então, foi praticamente impossível assistir ao filme sem tecer comparações ou preencher as prováveis lacunas existentes na obra com passagens do livro. Em suma, prá mim é muito difícil perceber o filme como obra independente do livro, como eu acho ser o justo.
Mas o que eu pude concluir, apesar de todos esses pesares e impecilhos, é que Pergunte ao Pó é um filme médio, que se aproxima mais de ruim que de bom, independente de ser ou não 'fiel' ao livro [termozinho esse que também dá um pano bom prá manga, viu]. A questão toda é que a trama do filme sustenta-se quase que completamente no relacionamento entre Arturo Bandini e Camila Lopez, quando este relacionamento não é tratado de forma complexa ou problemática o suficiente para preencher as duas horas de filme. É nesta parte, então, que o diretor utiliza superficialmente aquilo que, no livro de John Fante, é o principal: A vontade do protagonista Arturo de tornar-se escritor [e os constantes duelos que ele trava com si mesmo devido a essa cisma], e o olhar que este lança sobre os estrangeiros [imigrantes ou filhos de imigrantes] que, como sua família, viram nos Estados Unidos a possibilidade de constuir - ou reconstruir suas vidas.
Se há de se falar em falta de verossimilhança em Pergunte ao Pó, eu não diria da não correspondência do final do filme com o final do livro, ou das outras tantas mudanças na história; o que mais me causou estranhamento foi a forma como Camilla passa de indomável a completamente doce e vulnerável em apenas uma cena, para, em seguida, de súbito, esquivar-se de Arturo novamente.
Para mim, a maior falha da versão cinematográfica do livro de John Fante é deixar de lado aquilo que faz dessa obra algo tão especial: o pó. Dois jovens bonitos passando férias numa casa de praia branca, com direito a café na cama e lições de alfabetização não são - e dificilmente serão - a base de uma boa história, e muito menos são o Arturo e a Camilla que trocaram farpas, beijos e dores naquele Pergunte ao Pó das letras.

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