O menino do mombojó pedindo samba prá aquecer, algo prá beber, um tal de 'você', que a mim já não cabe saber quem é, e eu só sabendo que é difícil discordar da música numa hora dessas. Pior ainda é discordar quando ele diz que tudo pode ser e essas outras coisas que, convenhamos, a gente tá calejado de saber que não são e nunca foram verdade, mas que em música ganham uma dimensão gigante e põem a gente de olho fechado e as mãos assim, bem cerradas - quando eu tinha unhas elas bem cravavam a palma nessas horas - prá combinar com a força da voz.
Eu não discordo, então, e deixo os meus olhinhos enganados passearem pelo quarto já escuro e bagunçado, como se eu realmente visse nos objetos espalhados um monte de falhas na harmonia que um dia já existiu aqui; como se tudo isso que se faz palpável não fosse só um descanso pros meus olhos se apoiarem, enquanto eu caminho prá dentro de tudo que não pára o toque.
Eu vou pras lembranças e pros anseios e pras risadas só minhas e pros medos e pras dúvidas e prás indagações e pros desequilíbrios e pras lembranças e pras lembranças e pras lembranças.
Não sei te dizer quantos anos e quantas vidas eu vejo passar até que os metais e aquela voz rouca cantando que pode ser da vida acostumar me tragam de volta ao ponto que outrora foi minha partida. Não te diria também se me volto mais leve ou contrariada comigo mesma. Não é por aí. Só sei te afirmar com algo que beira a certeza que, poxa vida. Deixar de ser por um cadinho não é lá das piores idéias não, viu.
Versão curta: Tô viva, ouvindo Mombojó, viajando e ouvindo Los Hermanos quando me dou conta.
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