sábado, dezembro 10, 2005

[Atrasada pro 9º Concurso Maldito, de tema: Contos Malditos.]

Ironia

Clamou pelo pai de todos que estava no céu, e disse ser santo o nome deste. Quis que as alturas descessem, e que fosse feita a sua vontade cá e lá.Como se fosse pouco, ainda pediu o alimento cotidiano, o perdão de suas, também usuais falhas - que pecados ele não acreditava ter - e a proteção contra males e tentações.
Terminou com um Amém, cujo significado desconhecia, apanhou o casaco deixado na cadeira noite passada e saiu; porta afora, madrugada adentro.
Enquanto caminhava, os braços tocando a si mesmos prá remediar o frio, e a cabeça mirando hora o sapato esquerdo, hora o direito, recordava-se de detalhes do serviço que fora-lhe encomendado: "Último ponto da Rua dos Rubros, homem de 47 anos; pele clara, calvo e baixinho. Usando o uniforme da Usina, saltará no Ònibus das três e trinta. Sozinho."
Parecia fácil, em trabalhos assim não era estreante.
Sabia que bastava fazer-se discreto, contar com a ausência de gente que, àquela hora, haveria na rua, e dar graças ao silenciador que tinha em seu revólver.
As passadas firmes ecoavam pela rua, e a frieza de sua alma parecia confrontar-se com a da madrugada. Tinha o semblante tão tranquilo que, não fosse o silêncio que exigia a operação, poderia assoviar.
Havia chegado a seu destino e aproveitou o tronco grosso duma árvore para esconder-se enquanto o ônibus não aparecia por ali, pronto a cuspir pela última vez seu último passageiro.
Segundos depois, o automóvel barulhento e desengonçado fez sua parada final e seguiu rumo à garagem. O homem baixinho saltou como fazia todas as noites, e deixou-se ser ouvido a caminhar sua mesmice cotidiana. Foi a gingar seu corpinho gordo pela calçada, até dar as costas à mira da arma cuja existência desconhcia. Poucas passadas depois, beijou o chão e sangrou pela cabeça.
O dono do disparo já julgava ter cumprido sua missão quando, aos poucos, sentiu o coração descarnar-se de seu corpo. Os ombros pesavam como se ostentassem um piano, e o seu existir ia se apequenando de tal forma, que ele temeu perdê-lo.
Experimentava culpa pela priveira vez na vida, e não podia entender o porque. Se tantas outras vezes já puxara gatilhos e findara existências, não havia motivo prá, agora, ver-se às voltas com toda aquela angústia.
Caminhou até sua vítima numa tentativa inconsciente de buscar, não respostas, e sim mais martírio. Com a ponta dos sapatos, que agora já iam manchados de vermelho escuro, virou as costas do morto para o chão, afim de observar-lhe o rosto.
Sentiu o que ainda lhe sobrara de alma congelar-se, quando reconheceu naquele rosto sem vida traços seus. E amaldiçoou a névoa que a madrugada trazia e a estúpida distância que fora grande o bastante prá confundir-lhe as vistas; mas não o suficiente prá evitar que ele fosse, agora, assassino de seu próprio pai.
"Assassino de meu próprio pai. Assassino de meu próprio pai."
Repetia incessantemente enquanto dobrava-se incrédulo sob os joelhos.
Embasbacado ainda, e tentando livrar-se da insanidade momentânea que ameaçava tomar-lhe, Édipo, em nome do corpo desencarnado à sua frente, Clamou pelo pai de todos que estava no céu, e disse ser santo o nome deste. Quis que as alturas descessem, e que...


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[Notas egocêntricas.]

E, ó.
Eu bem disse que não ia tentar descrever tecnicamente o Show do Pearl Jam.
Mas ainda há uma coisinha jornalística dentro de mim, e eu acabei escrevendo o que talvez, com muita boa vontade, poderiam chamar de resenha.
Uns caracteres a menos, e fundida com o texto duma garota que também foi comigo prá Curitiba, aqui está.
É até curioso ver meu nome assinando outra coisa que não sejam posts nesse blog.
Curioso do jeito bom. :)

E ahhhh! [má que saco, hein Lara?]
Passei prá segunda etapa do vestibular.
E se passo da segunda, ano que vem serei estudante de Letras. :)

E poxa! [inconha! ¬¬]
Hoje é sábado. De notícias boas.
Começo a ficar alegre.
Bom fim de semana, ô gente. :)

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Felicidade quando arrancam da gente assim dá raiva, sabe.
Fica-se mais triste pela ausência súbita dela, que pela tristeza do fato propriamente dito.
Dá ódio, na verdade. Muito ódio de ver que alegria é coisa tão, assim, efêmera.
Mas, faz bem saber que há lembranças, e que à elas eu posso me agarrar com a confiança duma criança nos braços de mãe.

Essas vocês não vão diminuir.

[Amanhã deve vir um post de verdade.]