sexta-feira, setembro 16, 2005

[Vários] Da série: Bloco de notas é grande amigo em tempos de internet problemática...

Ócio
-Mas tá na cara, ela não vem.
-Eu sei. E é por isso que gosto da espera.


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Conclua prá mim, caro leitor. [Ou "opa! tá conectado! *clique no botão xis do bloco de notas."]

Ócio, vício. Me diz até onde a ausência me basta.
Ócio vi. Ciúme diz até onde a ausência me basta.
Oh, se o vício me diz até onde a ausência me basta,
(...) <- (é aqui que você entra.)


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Só prá usar uma palavra que eu gosto.

E lá se vai, lascivo.
A mexer os quadris com ginga que é só dele, e de mais ninguém.
Não peca pelo exagero da vestimenta, nem pela caricatura dos gestos. Só peca por se ir.
Assim, lascivo.


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Perca o Fôlego.

Um "ai" prá mim é um "ai" ou um resto de palavra que não se sustenta sozinha.[E cai]
Mas se dói em você [ai é dor e aí] eu sentia arder do mesmo jeito que arde em ti e como é que pode, ser tão igual assim?
Um ponto pode ser só terminação duma frase. Ou pode ser o dedo na boca prá não deixar saltar mais palavra.
Mas com um ponto meu eu te atinjo n´outros mil pontos teus que, juro eu, nunca soube ou imaginei que sequer existiriam.
Então não venhas tu ler poesia ou prosa ou frase ou rabisco meu e dizer que sabe o que é que eu queria dizer.
O que eu quero dizer eu já sei, vê bem filho, eu já até eternizei.
Leia-me e pense em você e deixe que as palavras te batam e te partam e te repartam e só então se depare com o que há de mim por aí.
[E à merda com isso aqui.]


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E uma última coisa boa, prá que vocês não pensem que a vieram até aqui em vão.

"Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá."
Microconto de Augusto Monterroso, quase que discutido numa aula hoje. Tá que meu professor fez uma análise bacana e tudo mais, mas a melhor interpretação, sem dúvida, veio dum rapaz lá do fundo da sala: "Bem, pode ter sido que o cara foi dormir bêbado com uma mulher bem feia e quando acordou..."
[Ah, tenha bom humor, vai. Foi engraçado. :B]

terça-feira, setembro 13, 2005

Acontece que eu tenho andado realmente sem o que dizer. Andei escrevendo algumas besteiras numas de minhas idas à biblioteca, [poizé, agora eu vou prá lá depois da faculdade fingir que estudo pro vestibular. Fingir com todo o significado da coisa, porque se já tem me faltado concentração prá aulas como "história contemporânea", o que dizer de estudar Física Elétrica.] mas é tudo muito coisa de momento, de fluxo de consciência, talvez, de descrever o que eu vejo a minha volta.
Mas, me incomoda deixar isso aqui às moscas. Então vá aí, um texto de algum tempo atrás.
Bobo. Poderia ser assinado por uma garotinha de 12 anos apaixonada pelo cara bonitinho da escola. O sentimento é o mesmo, eu sei que é. Mas é que, prá algumas coisas eu ainda não cresci não. [Prá muitas outras também não.]
E, admito. Toda essa introdução é prá me livrar um pouquinho do constrangimento de ter escrito coisa tão infantil e platônica.


Para o meu [quase] amor platônico.

Não sei direito, ô menino.
Eu acho que é esse teu jeito de olhar pros teus pés por pura vergonha de encarar aquela gente toda na tua frente. Meio tímido assim, como se se expor daquele jeito fosse coisa que doía.
Mas pode ser também a rapidez esperta de quem tem medo de se deixar errar, essa que você me deixa ver quando, entre um acorde certo e outro triste, tira uma mão da guitarra e a leva até o rosto prá ajustar os óculos que quase caem do nariz.
Penso até que talvez seja a tua voz, essa tua voz que canta o que às vezes eu sinto, o que eu sei entender até quando se faz grito, de dor ou de raiva ou de alívio - eu não sei.
Mas é que nessa sua indiferença imperfeita, você me ganha dum jeito que me confude e só deixa restar a certeza de que, ah garoto. Basta um "oi" seu prá eu me perder de vez.



[Em tempo: É tão infantil o sentimento, que já passou. Dele ficaram só as letras e umas lembranças bonitinhas.]

Ouvindo - Smashing Pumpkins, 1979 (falar neles, não fosse a minha pobreza gigantesca, quase teria comprado aquele cd cuja capa tem porquinhos, deles, hoje. 19 reais. Mas eu só tinha 20, e era pro presente da minha mãe.)

segunda-feira, setembro 12, 2005

Alô.


Lara não está, quem deseja? Sim. Sim, sim. Pode deixar. Qual seu número? Hum. Vinte e dois? Certo. Certo. Então, até... Vem cá. Ela não está, mas... Quer falar comigo?

Meu nome é Rafael, não que isso mude muita coisa. Não muda nada. Sabe, nunca gostei do meu nome. Torcia pra ser algum autor famoso (ou famoso autor) e ter um nome artístico, um que eu mesmo escolhesse. Mas sabe como são as coisas. Vou acabar como médico fazendo plantão em algum hospital por aí. Quem sabe ainda não corto da tua carne. Não, não desligue. Sou normal no sentido mais mediano da normaleza, mais frígido da sutileza.

E, sim, a Lara não tarda. Escritor tem um pouco de masoquista. Todas dores caem para o lado mais chato, o do escritor. Às vezes, já diria Fernando Pessoa, é bom não cumprir um dever, não ler um livro. Lara está dormindo e não quer ser acordada. Quando despertar vai dar a cara, ainda amassada, ao tapa, só para conseguir algumas linhas pra prender tua atenção, leitor sanguinário. Deixo um parágrafo sobre o assunto e um beijo no meio da testa para quem ouviu minha história.

Sentado. Pernas cruzadas hora para a direita, hora para a esquerda. Corpo curvado. Pelas mãos, derretidas, escorria tudo do que era de fraco nesse mundo. Os olhos, secos e turvos, buscavam no vazio algo para se acomodar e disfarçar o silêncio. Nada. Folheou o livro com medo de cruzar um olhar. Drummond não tinha nada para dizer. Nem Veríssimo, nem Rosa, nem ninguém, nem mesmo a senhora descalça que andava a passear pela calçada. Pensou em criar um verso. Pensou. Cinco minutos se enterraram com dois sonetos alexandrinos, versos todos heptossilábicos. Era todo poeta e nada homem. Arquitetara doze romances até a data em questão, e não tinha ao menos verve para encetar o seu. Naquele instante, era o mais pobre dos desafortunados, um escritor sem palavras e com uma puta de uma mancha de suor nas axilas. O nervosismo cerrara a boca, que, seca e estilhaçada, mal esperava pelo beijo que, de fato, não ocorreu. Foi-se a tarde. Beijo no rosto, mão no ombro, o adeus. Na rua fria e solitária, respirava aliviado a anotar os sentimentos.