quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Le Temps Détruit Tout.


[Para Camilla]

Eu me encontro hoje envolto naquele tormento tão conhecido de tempos anteriores, a riscar o papel com as costas da mão na tentativa de resgatar do sono as melhores palavras, as únicas bonitas e polidas o suficiente prá fazer acender os seus olhos. [É fato que nunca os vi no momento exato em que você lia minhas ridículas cartas de amor, - porque você sabe do clichê máximo, sabe que elas não teriam amor se não fossem ridículas - mas é assim, brilhantes, que eu gostava de imaginá-los enquanto percorriam minha letra esguia e confusa pela folha.]
Hoje, ironicamente, a confusão inicial me parece ser maior. Tenho a impressão de que as palavras das quais necessito agora dormem mais no fundo, e não sinto ter a habilidade de conseguir acordá-las a tempo de não te magoar com a minha falta de talento traduzida em rispidez.
É que me parece tão mais fácil bancar o parnasiano com as coisas que não precisam ser ditas, e é tão mais cômodo fazer das redundâncias [péssimas] metáforas, que eu devo ter me esquecido em algum ponto disso tudo como é que se fala daquilo que não é evidente e que, por isso mesmo, precisa ser dito.
A minha impotência me colocará apoiado em outros agora, e eu imagino que será isso o que mais te fará encher-se de cólera: com a carcaça das aspas a me proteger será difícil acertar em mim os golpes os cuspes os olhares - estes os mais dolorosos - de fúria.
"O tempo destrói tudo", Camilla, e ainda que evocar a luz impossível de teus olhos faça passar por mim um breve redemoinho agridoce [mais doce que amargo, pois trata-se você], o resto, o antes tudo, já não cabe mais, e esse atual desencaixe dói em mim como poucas coisas já doeram.
As lembranças, você saiba que eu as guardarei todas em mim e que cuidarei prá que nenhuma escape. Já quanto ao tempo... bem, quanto a esse eu serei o covarde de sempre, deixando meu corpo e tudo o que haja mais entregue a sua navalha, já que eu não penso haver outro recurso contra senhores deste porte.

Que você não me odeie pela falta [ou pelo excesso, eu nunca me sei.] de ridículo desta carta.

[De Arturo]

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{Da Camilla e do Arturo eu não esqueço nem quando fico quase 3 meses sem dar as caras por aqui. Quase uma da manhã, de férias, assistindo mais tv do que deveria e sentindo mais saudades do que o possível. Não dava prá mais que isso... que fique como distração.}