terça-feira, setembro 01, 2009

despedida de Setembro

Só quem já presenciou a companhia fiel e quieta de um gato sabe porque dói tanto quando eles vão embora. De hoje em diante, ela tem só mais sete dias, e tudo que eu queria era a ignorância calma e linda dela frente aos fatos; dentro dos olhos amarelos e gigantes dela a morte não é uma possibilidade tão recorrente, e esses incômodos passageiros hão de ser só passageiros, hão de parar daqui uns tempos.
Eu queria, mais que tudo agora, que o mundo fosse visto com os olhos espertos dela, e que a fatalidade não fosse possível, nunca. Eu queria que viver fosse macio como pegá-la no colo, e que todos os sons fossem de alegria, como aquele ronronar discreto que ela tinha.
O que dói em perder um animal, além da inocência deles frente ao fato, é saber que não inventaram nada que justifique esta partida. Não existe religião prá animal, nem a perspectiva de uma nova vida depois da morte. Quando eles morrem, a gente tem que se conformar com a saudade, e entrar dentro dela, e abrir mais um talho no corpo da gente, e ver mais uma cicatriz procurar um espacinho prá se instalar.
Eu não sei concluir isso aqui, porque eu ainda não soube me pôr nos eixos direito. Tô cambaleando entre dó, saudade, tristeza, desespero, infantilidade, não-aceitação. Vai passar, como qualquer coisa, e então eu vou poder sentir o toque bom da lembrança e um amor tão calminho quanto dormidas embaixo da mesa da copa.
Mas por enquanto eu só queria, pelo menos por um segundo, a sensação de conforto que ela me passava quando eu chegava em casa, como se dissesse lá do seu cantinho: Não importa o que aconteça, eu ainda estou aqui.

Ah, Pam.