terça-feira, maio 09, 2006

Logo cedo, de manhã.

Foi quando eu corri os olhos pelo mundo cá fora, na tentativa, mais tola que vã, de capturar algo que me saciasse pelo lado de dentro.
Havia uma mulher daquelas que andam como se clamassem por serem descritas [e eu não soube transformá-la nas palavras corretas - desculpe a incompetência, moça]. Havia ônibus rugindo e cuspindo pessoas que, tão preocupadas com o gerúndio cotidiano, pareciam sequer existir de verdade. Pensei talvez fazerem elas as vezes de figurantes de meu mundo, mas a falta modéstia que eu nutro de mim para comigo mesma mandou-me desvanecer logo esta idéia, que, onde é que já se viu tanto umbiguismo logo cedo, de manhã.
Resolvi então que era hora d´outro parágrafo, que do lado de fora eu não ia me virar bem não - e é sempre assim, há em mim um centro de gravidade interno, que me puxa e me traga sempre prá dentro de mim mesma, fazendo esvair-se em pensamentos meus o mundo aí fora. Pude eu discordar de mim mesma quinhentas vezes, resolver que talvez fosse hora de tomar rumo novo, ou de colocar gosto nas coisas que eu me dou a fazer. Mandei-me à merda continuamente, também, que não haveria porque me perter em tantas divagações e deixar que as coisas que existem - você, eles, fome, acordar e ver gente, sabe? - escorram de minhas mãos para que eu me reecontre comigo e com mim mesma outra vez; era redundância sem sentido.
Eu tinha casado de ser eu, então, devia ser. Contudo não queria desejar - tampouco queria querer - ser outra pessoa. Ranquei, portanto, o Cortázar da bolsa, mas o último conto já tinha me baqueado o suficiente prás horas seguintes. Tentei me concentrar no que diziam as pessoas; olhei prá baixo em fuga irônica quando pressenti meu reflexo a se desenhar torto no vidro dos carros. [Àquela hora eu me agarria a qualquer fio-de-ariadne fajuto que me levasse prá fora daquele labirinto interno.]
Quando despertei - súbita -, de meu comazinho particular, já era um texto findado, já estava eu descarnada em palavras; trocentos ônibus e olhares eu havia perdido; já tinha eu pingado o ponto final.



[Vezenquando a gente cansa de inventar. E isso aqui já foi tão mais 'diário', que eu não vejo problema em, vez ou outra, usar a primeira pessoa.]