quinta-feira, dezembro 03, 2009

Tá chegando o natal, com breguice.

Quando eu era pequena, minha mãe falava que meu irmão do meio era como um passarinho. Porque ele chegava em casa e todos sabiam que ele estava lá, tantos os barulhos, as cantorias, as falações. De um jeito bonitinho, ela dizia que ele era a sua alegria .

Hoje, na época do natal, quando eu vejo aquelas luzinhas enfeitando as janelas e trombo com as vendedoras alvoroçadas, loucas prá nos venderem alguma coisa porque elas também querem ser felizes no fim do ano, eu sinto aquela vontade imensa de voltar prá casa, de simplesmente assistir a novela na sala, sabendo que no quarto, ali pertinho, vai ter quem venha se eu chamar. Quero comprar todas as bolinhas de natal bonitas que eu vejo prá pendurar na árvorezinha da minha mãe, e sempre lembro daquele presépio antigo quando vejo os cartazes nas papelarias: "Já temos papel Pedra".

Um dia me disseram que toda vez em que se vê um beija-flor deve-se fazer um desejo, sob a promessa de que ele se tornará realidade. Nunca confirmei essa história, e acho que, de fato, nunca quis saber se ela era realmente verdadeira, porque, de algum modo, ela fazia sentido prá mim.

Há pouco tempo percebi, devagarinho, de uma forma deliciosamente suave, que eu também tinha passarinhos à minha volta o tempo todo. Era impossível estar com eles e não notar a presença de quem tem algo bom prá falar mesmo nos dias mais mal humorados. Cantamos (nas garrafas de cerveja, às vezes!) e voamos sobre os lugares mais bonitos, em todas as vezes em que falamos sobre as nossas vontades. Soubemos fazer de qualquer lugar um ninho quando algum de nós precisou. Sonhamos, e sonhamos, e sonhamos.

Entendi que, quando longe do meu ninho original, eu tenho meus próprios hummingbirds, com os quais faço desejos todos os dias, e recebo como resposta um sorriso: promessa de tudo de bom que ainda irá acontecer.

[Para os meus passarinhos e beija-flores, obrigada por este ano. Em 2010, mais desejos e vôos para nós.]

terça-feira, setembro 01, 2009

despedida de Setembro

Só quem já presenciou a companhia fiel e quieta de um gato sabe porque dói tanto quando eles vão embora. De hoje em diante, ela tem só mais sete dias, e tudo que eu queria era a ignorância calma e linda dela frente aos fatos; dentro dos olhos amarelos e gigantes dela a morte não é uma possibilidade tão recorrente, e esses incômodos passageiros hão de ser só passageiros, hão de parar daqui uns tempos.
Eu queria, mais que tudo agora, que o mundo fosse visto com os olhos espertos dela, e que a fatalidade não fosse possível, nunca. Eu queria que viver fosse macio como pegá-la no colo, e que todos os sons fossem de alegria, como aquele ronronar discreto que ela tinha.
O que dói em perder um animal, além da inocência deles frente ao fato, é saber que não inventaram nada que justifique esta partida. Não existe religião prá animal, nem a perspectiva de uma nova vida depois da morte. Quando eles morrem, a gente tem que se conformar com a saudade, e entrar dentro dela, e abrir mais um talho no corpo da gente, e ver mais uma cicatriz procurar um espacinho prá se instalar.
Eu não sei concluir isso aqui, porque eu ainda não soube me pôr nos eixos direito. Tô cambaleando entre dó, saudade, tristeza, desespero, infantilidade, não-aceitação. Vai passar, como qualquer coisa, e então eu vou poder sentir o toque bom da lembrança e um amor tão calminho quanto dormidas embaixo da mesa da copa.
Mas por enquanto eu só queria, pelo menos por um segundo, a sensação de conforto que ela me passava quando eu chegava em casa, como se dissesse lá do seu cantinho: Não importa o que aconteça, eu ainda estou aqui.

Ah, Pam.

sexta-feira, junho 26, 2009

Belo Horizonte, 25 de Junho de 2009.

Michael,

Muito obrigada pela diversão. Você viverá para sempre em nossos corações e mp3's players.
E que no céu você recupere seu nariz e volte a ser negão - era bem mais doido.
beijos,

Lara.


Michael gênio Jackson, com o tigrinho da contracapa de Thriller :~

quinta-feira, junho 04, 2009

Vôo Coréia-Londres (sem escala)

acordei em Londres no meio da fog que lá se chama fog porque neblina é muito pouco britânico pro frio de lá. acordei em Londres e meu cabelo era milimetricamente bagunçado de um jeito tão cool que a minha banda de rock safado já estava estourada e a minha única preocupação era chegar ao primeiro milhão e depois partir cada um pro seu canto sem ter que pensar em dinheiro nunca mais na vida e podendo nunca mais na vida ter que arrumar a cozinha depois do almoço. acordei em Londres e tudo o que eu falava virava outra fumaça dentro da fumaça e então eu desistia de dizer qualquer coisa e só enfiava a mão dentro dos bolsos do casaco e sentia como é quentinho não ter que pensar nada sobre nada. acordei em londres e ser besta ao invés de fazer mal fazia dinheiro...

quinta-feira, maio 07, 2009

Bon Jovi me entenderia...

... E talvez eu até me permitisse ter uns defeitinhos, umas falinhas, porém só aquelas que, de tão pequenininhas e descabidas dentro da perfeição, acabam por só tornar tudo mais gracioso ainda.

(Uma pinta solitária ou um dentinho de Kirsten Dunst.)


Mas nunca esse turbilhão de desacertos, todos ao mesmo tempo e agora, tornando tudo futilmente mais difícil, fazendo a desconfiança parecer tão confiável, colocando cortinas imaginárias sob os espelhos - é sempre preciso recorrer aos filtros quando se é gauche nos reflexos.
Por mais que não pareça importante e por mais que seja superficial, acontece que eu queria, por um diazinho que só, ser direita.

terça-feira, março 03, 2009

agora, do carnaval.

Quando chove na terça-feira, justinho na redentora terça-feira, e alguém toca um samba sobre alguém que se foi, a euforia acumulada desde a sexta parece se esvair no contratempo de um acorde. E o tempo cinza, romanticamente perfeito prá se permitir um vazio, agora só não parece mais descabido que o seu desânimo de último dia.

Porque ser triste no carnaval é engolir a angústia com cerveja e sentir na boca o gosto dos confetes de ontem, é ter vergonha de chorar na frente de tantas cores. Ser triste no carnaval é ir contra esta obrigação de se ser feliz, é começar o ano mais cedo, é dar de cara com a ressaca que a verdade traz.

Porque ser triste no carnaval é acreditar que todo samba é de verdade...

"A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira

Tristeza não tem fim
Felicidade sim..."