quarta-feira, janeiro 28, 2015

quiromancia dos bêbados

Ontem, na quiromancia dos bêbados, me disseram que vou ser rica, viver muito e ter dois filhos. Mas na mão dos outros dava prá ler isso tudo e umas coisas sobre relacionamentos, casamentos, namoros, e eu achei estranho a minha predição não ir até essa parte.

É que na sua palma, Lara, as linhas tão todas bonitas, claras e bem explicadinhas, mas tem uma coisa estranha: você não tem a linha do amor na mão.

Não que o leitor de mãos fosse um respeitável místico das previsões,  e nem que eu não seja cética, não que a gente acredite em destino, ou no poder não científico que os riscos da nossa mão teriam de ditar o que seríamos, não que a gente acredite que esses talhos possam ter poder superior às nossas relações sociais e ao conjunto de causas e consequências que fazem as coisas darem certo ou errado, não que a gente se fie na sorte do acaso, mas também não é como se a gente só acreditasse naquilo que pode provar, não é como se nunca tivéssemos desconfiados das coincidências, não é como se passássemos de peito aberto debaixo das escadas da rua e viajássemos tranquilos quando só sobra a poltrona 13, não é como se nunca tivéssemos atribuído àqueles acontecimentos importantes uma aura de magia, prá ver se, ao menos às vezes, as coisas extrapolam o despropósito do cotidiano e pareçam, ainda que de longe, a sombra das nossas ficções preferidas, quero dizer, não é como se a gente não se afetasse nunca.

Por coincidência ou não, ontem, depois da quiromancia dos bêbados, nós tomamos 30 garrafas de cerveja, e talvez lá pela décima nona eu tenha pensado: se em alguns anos continuar não dando certo eu vou comprar um canivete e abrir eu mesma a linha do amor mais bonita de todas na palma da minha mão direita que é prá não dar ousadia pro destino.