quinta-feira, setembro 29, 2011

Pro meu amigo de olho azul.

"O principal do gato é querê-lo
em tudo o que fica depois
de se tê-lo"

(Lima Coelho)


Às vezes ele está em meu colo, com os olhos quase fechados, deixando a vigília de lado prá entrar em seus sonhos de gato (latinhas e latinhas de ração? um quarto cheio de bolinhas de papel? dormir na geladeira nos dias quentes?) quando uma coisa qualquer que soe depois das janelas desperta-o. Ele se põe nas duas patas de trás (há quem diga que é um problema de coluna, um alejo, uma habilidade. Prá mim é um charme.) e, atento, tenta ver através.

O que haveria depois das paredes, além das portas e do carinho que o cercam? O que haveria além de camas fofas prá se dormir, sofás prá arranhar e chuveiros que soltam aquela água doida de se ver? Talvez algo melhor que as tardes passadas na mesma cadeira, dormindo e acordando com o chacolhar das chaves dos apartamentos vizinhos, fazendo da frustração mais um motivo para esperar. Talvez algo não tão bom quanto ver a porta se abrir já tarde da noite e não estar mais sozinho, e poder miar e miar só prá ouvir outro som em resposta.

Sua investigação, porém, não dura muito tempo. Carinhos embaixo do queixo são fatais, e, pouco tempo depois, meu amigo torna a cerrar os olhinhos azuis. Acomoda todo o corpo gordo no vão entre minhas pernas (o rabo contorna as patas, riscando a linha que delimita seu espaço) e adormece novamente. Vez ou outra, com muita discrição, levanta uma orelha ou treme uma das patas.

Café tem sonhinhos de liberdade.