segunda-feira, dezembro 15, 2008

do fim de ano.

Você passa o ano inteiro de um lado para outro, a cabeça afundada em tudo menos no travesseiro, suas pernas inquietando o desconforto de não entender as pessoas e essa vontade estúpida que elas ostentam de ter e ser tudo ao mesmo tempo.
Você passa o ano inteiro frustrado por não compreender a engenharia que movimenta as existências, até perceber que você, inevitavelmente, agora faz parte deste mecanismo estranho e sem sentido.
O tempo todo você cumpre a sua rotina, automatiza suas funções, tem tempo regrado até para os pequenos escapes programados para o fim das semanas, o tempo todo você já não sabe mais qual é a sua função dentro do todo.
Ao fim você pensa que já está desfeito de todos os seus motivos e razões, ao fim de um ano você quer só desistir do próximo.

Mas então, quando você, em algum ponto, se pôs preso dentro de um apartamento vazio e lá fora chove daquele jeito triste como só quando se está sozinho em dezembro, então você lembra que há o fim de ano prá que você não perca o sentimento de ser pequeno e aguardar com esperança pelo que você já conhece, ser pequeno e ter voracidade prá abrir o papel de um presente que em algum tempo irá quebrar, ser pequeno e simplesmente sorrir, porque as coisas devem ter um motivo que você desconhece para serem boas.


...Let the seasons begin - it rolls right on...

segunda-feira, novembro 17, 2008

Talvez não seja mesmo do nosso feitio seguir em frente, se tudo parece melhor quando olhado por cima dos ombros, se há essa dor deliciosamente forte nos conduzindo a um passado tão mais bonito, tão mais leve.
E - falo é sem saber, nunca soube mesmo de nada - eu arrisco que não haja no tempo um lugar confortável prá se ser gente, se não há o que valha fora a lembrança...

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Eu sentirei muita saudade de tudo.

quinta-feira, outubro 30, 2008

arquivos.

... e agora eu só sei falar de dor nos rins, estágio mal sucedido, deixa-prá-lá, raiva contida, potência desperdiçada...

domingo, setembro 21, 2008

sobre a cocada mole e o into the wild - um post de gordinha.

Querido diário,

Hoje eu descobri a cocada mole. E talvez eu realmente necessite falar sobre isso, porque durante toda a minha vida eu subestimei a cocada, já que vivemos em um país no qual o amendoim (ave!) tem aceitação justa na culinária nacional. Contudo, hoje, num surto desenfreado de boicote ao regime, eu me deparei com um pote fechadinho de doce de coco pastoso misturado com doce de maracujá. Cinco minutos e três cortes na mão após a intenção, eu abri a tampa e meti a colher lá dentro.
A minha realidade, inapreensível e torta tal qual eu a conheço, subiu nas pontas dos pés e ficou lá por uns cinco segundos durante os quais eu pensei derreter. Então eu decidi que seria gorda prá sempre mesmo, pois não há problemas tão grandes em reberlar-se contra a ditadura da beleza quando se tem um pote de cocada mole em uma das mãos uma colher na outra. [minutos mais tarde eu passei em frente a um espelho e repensei severamente esta minha decisão.]

E justo hoje, quando eu estava quase decidida a juntar minhas coisinhas numa mochila confortável e ir brincar de "Into the Wild*" ali pelas bandas da USIPA, justo hoje eu me deparo com uma epifaninha dessa importância. Não seria a moral, o dinheiro, o conforto ou a Ana Maria Braga me acordando em manhãs de folga culposa; só a cocada mole me faria ficar. (foi mal, mãe. =/)

Então, querido diário,
Hoje eu descobri a cocada mole. Hoje foi um dia bom.

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*o filme mais criticável que eu nunca vou conseguir criticar. quem já quis ler On The Road, quem já arrumou trouxinha de fronha e falou que ia fugir de casa, quem já coçou a cabeça pensando rapidamente que 'porra, tá tudo errado!', vai gostar. (ou não, e se não gostar enfia no cu que hoje eu to bem quarta série.)

quinta-feira, setembro 04, 2008

do que fica.

Eu ainda mato aula de manhã prá ficar em casa assistindo videoclipe ruim. Ainda tenho vontade de ouvir 'without you I'm nothing' ao primeiro sinal de que alguma coisa vai dar errado. Me pego pensando em vontades absurdas de voltar a ter 2 anos de idade quando vejo uma criança sentada no carrinho de supermercado.
Eu ainda não sei a resposta prá pergunta mais chata a se fazer em festas familiares [o que você vai ser quando crescer?], ainda tento escrever, tento tocar alguma coisa, ainda acho que rockstar é a melhor profissão do mundo, e que não há idade que amadureça meus ouvidos o suficiente prá me fazer gostar de Pink Floyd ou de qualquer outra "viaja nesse solo, véi" band.
Eu ainda passo esmalte vermelho nas unhas porque acho que tá em tempo, uso listra horizontal mesmo sabendo que engorda, acho que dessa vez eu acerto no corte de cabelo,eu ainda misturo vinho com vodca e acordo com ressaca.
Eu ainda acho que emprego é coisa de gente grande, não sei como eu vim parar aqui, ainda acho que não tenho nada interessante prá contar - mas continuo contando, ainda mantenho o mesmo blog e o mesmo número de telefone.

Na verdade, lá no fundo, eu ainda tenho vergonha de comprar quebra-queixo, e ainda tenho medo de descobrir quais são as coisas, dentre essas tudas, que continuarão me perseguindo por mais uns dez anos.

sexta-feira, julho 04, 2008

wall.e


Wall.e, provavelmente dizendo: 'eeeeeeeva?!'

Dessa vez a Disney acertou muito a mão junto com a Pixar e fez uma das melhores animações gráficas desde muito tempo [considerando-se muito tempo todo o pequeno histórico das animações realizadas pela parceria Disney-Pixar, que deve ter seu princípio em Toy Story].
Este mérito se torna maior devido ao adendo de o filme ter como personagens principais dois robôs, cuja expressividade corporal é inversamente proporcional ao léxico; Wall.e só diz 'Eeeeva', e Eva só sabe dizer 'Wall.e!'.
Incrivelmente, e eu não sei se a sacada se deu na construção brilhante dos personagens ou na abordagem bem humorada de um tema potencialmente chato [a destruição da terra pelos humanos, o que será do nosso futuro se continuarmos utilizando as sacolinhas plásticas do carrefour, chamem o greenpeace que o bicho tá pegando, e tal], Wall.e funciona muito bem.
A possível monotonia da parte inicial do filme, na qual o robô cujo nome dá título ao filme encontra-se sozinho na Terra há mais de sete mil anos [tadinho. :~] é quebrada por elementos simples, contudo essencias. A baratinha de estimação; o relicário do robô, no qual ele guarda quinquilharias encontradas durante a limpeza de lixo que ele promove diariamente no planeta; as simpáticas interjeições do protagonista, soltadas sempre no tempo correto. São vários os pequenos detalhes responsáveis por conferir ao filme um tom leve, ainda que uma primeira observada na sinopse possa fazer isto parecer difícil.

Em todo o desenrolar da animação, uma perspectiva apocalípitica do futuro é tomada - não aos modos de uma ficção científica pessimista, e sim de forma um pouco mais moralista - mas, de alguma forma, esta abordagem não se assume como o mote principal do filme. Ainda que o pano de fundo pareça muito pesado para a história que pretende sustentar, o carisma dos personagens principais salva Wall.e de se tornar uma espécie de lição de moral para pequenos (e grandes).

Prova - besta - disso é que ninguém sairá do cinema pensando em como a existência humana pode ser nociva para o planeta, e sim imitando o jargão de Wall.e. [by the way, 'eeeeeva!'] Não que eu queira, com isso, afirmar que trata-se de um filme que talvez tenha se pretendido um pouco mais profundo do que consegue alcançar; ocorre que, ainda que trate de temas um pouco mais complexos que o normal, wall.e é, antes de tudo, um filme muito divertido.




[Depois de ter que me enfiar em 10 páginas de pura pretensão cinematográfica prá faculdade, eu merecia escrever qualquer porcaria sobre um filme bobo, só prá poder ser do jeito que eu ainda gosto de fazer.]

quarta-feira, julho 02, 2008

(como se não bastasse todo o saldo negativo, todo o desarranjo desesperador, toda a prostração impaciente, eu tenho que bancar a crítica de cinema no fim de semestre.

eu sei a resposta, mas perguntar não ofende: como é que eu vim parar aqui?)

terça-feira, junho 03, 2008

não vou me justificar.

Se o tempo fosse perdido, talvez seria mais fácil dar jeito nessas dilaceradas mansas que a memória crava na minha pele. Porque é a lembrança, este mofo inevitável que se cultiva desde o momento em que se nasce humano, a raiz da minha nostalgia.
Talvez seria melhor me deixar ir nas epilepsias dos esquecimentos forçados, ou apagar as minhas reminiscências doídas de tão bonitas do fundo dos meus olhos, ao invés de me permitir dar cabo a esta obrigação desonesta de confrontar o agora e o antes.
Ainda que os anos de vida não permitam aparecer as minhas rugas, do meu lado avesso pesam rostos músicas falas lugares desfechos e mais tanta coisa que me faz sentir como se não houvesse como tanto tempo assim ter se passado sem que eu percebesse, sem que eu me aprumasse.

Este acúmulo calado de pó que os dias nos garantem - crescer - não é assim tão brando, não importa se com 12 ou com 21 anos. Não importa que tenhamos nosso próprio tempo.

sexta-feira, maio 16, 2008

well, I wait so long...

Eu gosto da inocência de quem sobe as escadas [porque o elevador tá quebrado] dançando, sem se lembrar que:

1) a louça de ontem tá na pia até hoje. e não é pouca coisa.
2) o quarto parece mais um amontoado de roupas, copos, cremes e papéis do que um próprio quarto.
3) não é assim, tão mais legal, sair da faculdade e dar uma passada no buteco ali da frente. não é assim, tão mais animado. uma cerveja, ultimamente, significa realmente só uma cerveja.
4) é sexta feira, mas aquele clima de 'dancing with myself' e coisetal só rola no mp3 player, mesmo.
5) por mais que pareça emblemático, ter vontade de passar o fim de semana inteiro dentro de casa ao invés de sair prá qualquer canto não é sinal de porra nenhuma senão preguiça.
6) isso não tem a menor importância.

Melhor deixar a playlist animadinha prá daqui umas semanas, meses, encarnações.
Tchau mika, falou billy idol, passa amanhã, B52's.

terça-feira, abril 22, 2008

prumamiga.

Ela já esteve em minhas mãos, mas agora sai nos três por quatro com aquela cara de quem ia tentar consertar da última vez e errou todo o caminho até ali de novo. Não que comigo ela achasse o rumo, é quando a gente tinha a nossa companhia prá se perder, a confusão dela parecia tão mais leve, como se soprada após as tragadas de Lucky Strike - era desse que ela gostava, por causa de um texto não-genial mas invejável, de autoria duma beatnik de apartamento paulista.

Não que eu pudesse qualquer dia salvá-la, que amizade de verdade não presta prá isso. Acontece que as pequenas desgraças da vida se dão por osmose: a gente passa um pouco da nossa e pega um pouco da alheia, porque aí, quando se assusta, já nem se sabe mais porque é que dói; só se sabe do talho, e isso aí já é motivo de sobra prá sair passeando pela rua com aquele sorriso amargo e a pretensão de que um dia a gente ri disso tudo.

quarta-feira, abril 16, 2008

querido diário.

As gerais vão quentes, meio amargas, mas eu acho que tudo se conserta no inverno, ou na madrugada de hoje ainda. Um sono bem dormido, talvez a coisa mais útil que eu faça hoje, um fim na procura de algo concreto prá fazer - redenção ao fardo, ao fado também.

Piadinhas escrotas e jogos de palavras, haja pó-de-arroz prá abarcar de uma margem à outra esse hiato assumido. E o gosto amargo das gerais faz sentir como se eu tivesse mastigado a serra do curral inteira dentro da boca. O calor cozinha esse sabor estranho, dilacera mansamente meu paladar, minha falta de vergonha na cara, meu completo vazio de assunto.

Já foi mais doce, se foi... mas talvez agora seja mais real, já que é mais traiçoeiro.
Eu vou é desconfiar de dentro de todos os limites que me circunscrevem às minas; quiçá eu até vou cortar fumo e espiar da beirada da minha calçada, como sugere a propaganda da Telemig Celular.

Nada disso. Eu vou é dormir, que essa voz que vem da sala da tv me cansa mais que eu mesma, e olha que eu tô variando.

segunda-feira, março 17, 2008

this is (not) the end, my only friend.

Por um tempo eu pensei que havia sido trapaça técnica, e que, portanto, era hora de acabar com isso aqui de uma vez - do jeito menos poético e menos suicida. Mas, agora tudo parece já estar certo, e mesmo assim eu tenho postergado o meu confronto com essa janelinha em branco por tempos...
Talvez a vontade e a falta de vergonha na cara acabem mesmo uma hora, mas eu não tenho os culhões necessários prá admitir que uma hora essas coisas perdem o sentido.

Eu sei, muito bem, fazer isso. Continuarei adiando, até que outro bloqueio do servidor - muito mais sensato que eu - ponha nisso um fim verdadeiro.