terça-feira, outubro 25, 2011

Ouvir as risadas que, a cada tarde, parecem nunca terem saído dali. Um som fincado num muro de descansar, num banco de rir todo dia às dezesseis.

(A experiência concretada naquele lugar de estar.)

E no escurecer-clarear, uma coroa de instantes machuca a minha testa, um prego se prende na palma de minha mão, na planta de meu pé: ficar aqui, sempre aqui.
Sentir no fim da vida o sopro igual de todos os meus hálitos; me ver coincidida comigo, no mesmo lugar, sob a sombra entortada que aquela árvore dá quase antes das dezesseis.
Às dezesseis o rapaz ri.
Ficar aqui, sempre aqui.

quinta-feira, setembro 29, 2011

Pro meu amigo de olho azul.

"O principal do gato é querê-lo
em tudo o que fica depois
de se tê-lo"

(Lima Coelho)


Às vezes ele está em meu colo, com os olhos quase fechados, deixando a vigília de lado prá entrar em seus sonhos de gato (latinhas e latinhas de ração? um quarto cheio de bolinhas de papel? dormir na geladeira nos dias quentes?) quando uma coisa qualquer que soe depois das janelas desperta-o. Ele se põe nas duas patas de trás (há quem diga que é um problema de coluna, um alejo, uma habilidade. Prá mim é um charme.) e, atento, tenta ver através.

O que haveria depois das paredes, além das portas e do carinho que o cercam? O que haveria além de camas fofas prá se dormir, sofás prá arranhar e chuveiros que soltam aquela água doida de se ver? Talvez algo melhor que as tardes passadas na mesma cadeira, dormindo e acordando com o chacolhar das chaves dos apartamentos vizinhos, fazendo da frustração mais um motivo para esperar. Talvez algo não tão bom quanto ver a porta se abrir já tarde da noite e não estar mais sozinho, e poder miar e miar só prá ouvir outro som em resposta.

Sua investigação, porém, não dura muito tempo. Carinhos embaixo do queixo são fatais, e, pouco tempo depois, meu amigo torna a cerrar os olhinhos azuis. Acomoda todo o corpo gordo no vão entre minhas pernas (o rabo contorna as patas, riscando a linha que delimita seu espaço) e adormece novamente. Vez ou outra, com muita discrição, levanta uma orelha ou treme uma das patas.

Café tem sonhinhos de liberdade.

sexta-feira, setembro 16, 2011

Angelus Novus

Quando foi que escolhemos ver o passado sob a ótica do horror de nossas escolhas, e fizemos do progresso irrefreável a nossa via guia cega?

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Quando foi que escolhemos não viver mais os melhores dias das nossas vidas?

quinta-feira, julho 07, 2011

Lived in bars

O álcool, ele tem esse problema. O problema terrível, cruel, perverso, de desmistificar o mundo enquanto o torna deliciosamente claro. Quando a gente tá meio bêbado as palavras são fáceis, e a realidade está logo ali.
Por isso é tão terrível ceder ao impulso e ir dormir. Não, jamais! Travesseiros e cobertas jamais nos fornecerão a verdade de uma segunda mesa, o desarranjo querido de um novo boteco, porque o anterior fechou. As histórias fluem e se repetem, as opiniões brincam em nossa boca, transformam-se em idéias até que tenhamos a sem-vergonhice de fazer delas palavras ditas, até que elas se alcem ao brilho de prosa falada. Dizer é sempre mais interessante se a prosa é emboladinha, se o interlocutor está (também) exposto...
E por tantas serem as possibilidades é difícil ir prá casa. É difícil se recostar no sofá e ver a noite toda ir embora descarga abaixo. É ruim ver o pó baixar e dar de cara com o que somos realmente, com o que aparece ébrio no espelho, dessa vez patético, sem propostas de salvação do mundo (ou da mesa) em sua próxima aparição.
Fácil encarnar nosso personagem boêmio. Difícil demais trocá-lo por aquele que, no dia seguinte, sob sol rachando, tenta repetir as façanhas do ser sem a magia da noite anterior.

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Novo começo old school.

Achei que meu blog merecia pelo menos um oi depois de tanto tempo sendo negligenciado.
Eu sei, eu sei que essa coisa de blog sobre assuntos aleatórios já tá old, que o négocio agora é resumir as bobagens em um tiquinho de caracteres e ir falar sozinho em outro lugar, ou ainda misturar foto com texto naquele outro suporte lá que nem o nome eu sei falar mas que tenho certeza de que 89% das url ali registradas começam com "Fuck Yeah" qualquer coisa.
Só que vir falar de coisas tecnologicamente ultrapassadas aqui é chutar cachorro morto, meu amigo. Eu acabei de consertar meu template na mão, caçando código por código no ctrl+f, e fiz as duas imagens toscas (a do topo e a que separa os posts) copiando do google images e colando no meu inseparável amigo de infância PaintBrush - coisa da qual honestamente me orgulho.
Meu computador, que por sinal tá estragado, é desktop; minha tv é CCE de tubo e tem pouco mais que um palmo em polegadas; a qualidade funcional do meu celular é tocar rádio FM e o meu sonho de consumo eletrônico atualmente é um aspirador de pó.
Quer dizer, disfarço pobreza com purismo. Disfarço saudade do blog com falta de assunto.

De qualquer forma foi bom postar aqui de novo, do jeito old school, de madrugada em Ipatinga, depois de devastar a internet inteira, achando que alguém tá me ouvindo mas com a remota certeza de que tô falando prás paredes.

Acho que por hoje é só isso... Será que esse ano eu volto prá cá?
:)