sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Fevereiro.

Em janeiro cada decepção que me voa na cara é uma batida de tambor que eu ensaio prá tocar em fevereiro. Eu, que não tenho ritmo e nunca bati a mão com força no couro de verdade, espero o carnaval com tanta força que vejo as portas do meu armário às vezes se estufarem e se fecharem de volta num compasso marcado, até derrubar daquela prateleira lá de cima - a prateleira que todo guarda-roupas tem, onde se guarda os restinhos puídos de felicidade - as perucas, as máscaras, os poucos confetes que resistiram ao ano passado.

Fevereiro é o mês de se esperar um messias profano, de barba comprida e batom mal passado, rindo da graça irônica que mora no alívio de se ser outra pessoa por algumas horas. É o mês de se render a todo o interdito, de desafiar a saúde e a sanidade, de achar a felicidade numa fantasia mal justificada, num bloquinho desafinando na rua.

Por 4 ou 5 dias, então, não importa, o jogo é o brinquedo de suspender o tempo, enfiando os relógios nos copos d'água e torcendo prá que eles não sejam à prova de nada. A alegria adiada de um ano inteiro vai ter que caber na sexta-sábado-domingo-segunda-terça, tornando a ser varrida pros cantos junto com os cacos de todos os outros 360 dias de cinzas.

Fevereiro já chegou. Agora só falta mesmo chegar o profeta bêbado, repetindo prá gente durante cinco dias aquela previsão linda das ciganas falsas: está tudo certo e você vai ser feliz.