domingo, maio 11, 2014

Todo fudido tem direito a um clichê.

Em uma sequência pequena o suficiente prá não configurar tradição, mas grande o suficiente prá ser mais que coincidência, eu tenho danado meu coração nos anos pares. Talvez porque nos anos ímpares reste um, e aí eu tenha alguém prá me escolher por último na queimada e falar: foda-se a queimada, você é legal, vamos sair daqui e ir brincar de, sei lá, tapão.

Em outra sequência, essa já mais explícita, parece que todo término de namoro da nossa geração gira em torno de uma cena, dois personagens de um filme e uma música metade pop, metade triste prá caralho: a cena em que Joel e Clementine vão jantar num restaurante e já não tem mais assunto, mas por pura coação social trocam duas frases: 'How is the chicken?' 'It's good.' (ou algo aproximado); Summer e Tom, de 500 days of Summer; I Know it's Over, dos Smiths. Parece que em todo facebook, em todo quarto vazio, em todos os fazer uma mala com os restos da pessoa porque um dia ela vai aparecer prá buscar, em toda fossa de relacionamento dos jovens adultos, lá estão esses mesmos clichês. Porque eles são universais o suficiente prá abarcar o geral dos relacionamentos que viemos tendo, e dos problemas que viemos enfrentando nesse processo falido de tentar acertar na vida.

Fora dessas sequências, e usando o clichê prá desmontá-lo, acho que o que vai ser mais difícil daqui prá frente vai ser lidar com o efeito Brilho-Eterno reverso que a gente nunca percebeu que rolou com a gente. Lembra quando a gente ficava escalando todos os eventos belorizontinos em que a gente havia estado junto antes de se conhecer? Talvez a gente tenha apenas se apagado um do outro há muito tempo atrás, quando percebemos que o nosso negócio não daria certo, e por isso ficamos tanto tempo nos esbarrando sem saber em cada show e mostra de filme gratuita dessa cidade. Um dia a gente se esbarrou de verdade, falou aquele -ok- do fim do filme um pro outro, tocou everybody gotta learn sometimes em alguma caixa de som de algum lugar do mundo, e lá tava a gente de novo, se enganando.

O problema é que agora nós já mapeamos a cidade (de novo) juntos, e quando nós nos encontrarmos naquelas mesmas filas de shows e mesas de bares (talvez por um tempo não haja mais dispô prá fingir interesse em mostras de filmes independentes suecos) não teremos mais o privilégio de sermos os desconhecidos de antigamente.