sábado, dezembro 11, 2004

Sete e meia da noite e esse sol que não percebe que já devia ter ido embora. Barulho, carro, gente.
Ponto de ônibus. E esse cheiro doce e enjuativo que pretende parecer flor [provavelmente rosa] misturando-se com a fumaça do cigarro que essa moça de blusa transparente e saia curta segura.
Do outro lado, outra moça. Se eu não tô enganada essa é amiga da primeira. As unhas do pé, pretas. As da mão, vermelhas. Blusa terminando onde começa a barriga, e uma coxinha de frango na mão.
"Aí ó, chegou." E entram dentro do ônibus. Bem percebi que o motorista quase arranca a roupa das duas com os olhos. Será que se importam?

Outros ônibus. Ainda não. Esse não serve. Serviria esse outro? Sei não. Melhor não arriscar.

Carrinho vermelho parado no sinal.
E a moça ajeita a franjinha no retrovisor, a gola da blusa, retoca o batom, arranca o carro e leva sua pose de boneca pra depois do semáforo.

Mais carro, mais gente, mais ônibus sem serventia.
Sacode o pezinho. Vontade de ir ao banheiro. Vontade de não precisar voltar aqui amanhã.
Opa, chegou. Sinal com o indicador.
Ruas, ruas, ruas.
Casa. Chuveiro. Cama.
Despertador, de novo. Dia, de novo.
E há remédio?


[Ouvindo:Chico Buarque - Cotidiano]
[Vem cá... Quando é que as pessoas se tornaram tão clichês?]

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