sexta-feira, agosto 01, 2003

"(...) Nao sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Nao sei se sinto de mais ou de menos, nao sei
Se me falta escrupulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeçao aos ruidos,
Ou se ha outra significaçao para isto mais cômoda e feliz.


Seja o que for, era melhor nao ter nascido,
Porque, de tao interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chao, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as logicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre arvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhas,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, o vida.


Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
E preciso querer chorar, mas nao sei ir buscar as lagrimas...
Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, nao choro,
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
Que ha de ser de mim? Que ha de ser de mim? (...)"



Passagem das Horas - Alvaro de Campos

O poema todo voces podem ler aqui.

Sem condicoes eu postar tudo. E muito grande, e muito bom.
Porem a blogspot nao permite todos os acentos, o que muito me irrita.
Mas como eu nao to disposta a mudar de servidor tao cedo, fica por isso mesmo.

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