quarta-feira, outubro 26, 2005

Sobre Clichês, rios e falta de memória.

Eu já não me lembro muito bem - minha memória nunca foi boa - o nome daquele filósofo que, há um tempinho atrás, escreveu algo sobre nunca se poder entrar duas vezes na mesma corrente dum rio. E o rapaz era até esperto. Justificava-se dizendo que, além de as águas do rio se renovarem a cada instante, você também não continua o mesmo. Pois, veja. No instante em que sai, você já não é mais o Fulano; passa a ser Fulano-pós-entrada-no-rio.
Deu prá entender?
Então. O que quero dizer é que hoje - com o perdão da péssima metáfora - tentei entrar num Rio no qual já estive em outros tempos. Explico, pois não: Voltei pro Cursinho.
E não sei sei bem se é por ter me mantido alheia a esse tipo de ambiente por um certo tempo, ou se o ano que passou [e que tá quase acabando né? Oia bem. O que é a rapidez do tempo, não é mesmo minha gente?] é que fez de mim uma pessoa mais perceptiva. Mas, ocorre que eu tenho a impressão de que os adolescentes se encaixam com maestria e força extraordinária nos clichês humanos. Nas roupas, nos gestos, nas frases, nos papéis, no jeito de falar.
Em um dia apenas, já flagrei os hippies que devem prestar algo na área de humanas; os playboys com blusa do camarote da última festa da redondeza; os "tô nem fudendo, aê." com ar blasè o tempo todo; o apaixonado que senta do lado dela, nem tão apaixonada assim, e a assiste durante todas as aulas; as miguxas numa competição subentendida acerca de quem tem o melhor namorado, a melhor bolsa, o cabelo mais liso, e por aí vai; e mais uma penca de tipos. Flagrei até uma tímida sentada mais ali atrás, rabiscando a contracapa da apostila e dando umas olhadas esporádicas prá toda a sala, botando etiqueta em todos os tipos e tornando a abaixar a cabeça prá riscar qualquer porcaria pretensiosa no papel duro.

Sabe. Não é que eu esteja alheia a toda essa coisa. Eu sei uai, eu tô ali, naquela fase intermediária para qual os publicitários crescem os dentes. ["Ah... esses adolescentes, adoram comprar! *olhinhos de cifrão*]
Mas é que toda essa esterotipação me assusta, quando não me enjoa. Menos pelo fato de serem eles exemplares vivos do que há de mais medíocre numa faixa etária, e mais porque, até onde eu me permito dar opnião, a idade não fará tanta diferença nesses casos.
Serão adultos-classe-média estereoripados. Deixando-se divergir apenas no endereço, profissão, cor de cabelo e número de filhos.

É.
Não vou negar que já nadei nas correntes do tal Rio. Mas minha reentrada nele se faz mais difícil hoje. Sem reprimir a presunção, acho que a água é muito rasa prá mim.

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