domingo, junho 19, 2005

[Ode à Merda.]

No meio da escuridão indecisa, constantemente interrompida por alguns feixes de luz, ela tentava esconder sua magreza exacerbada e suas roupas mal escolhidas encolhendo-se num canto da parede, enquanto ajeitava os óculos no nariz.
Olhava com admiração que beirava a inveja a desenvoltura daquela menina que requebrava de modo desesperado à sua frente, e desejava também saber se chacoalhar daquela forma, e voltar os olhares dos garotos para ela.
Se gostava da música que preenchia o salão? Isso não vinha ao caso.
Ela só queria ser igual por alguns segundos e não ter de disfarçar o constrangimento de estar em um lugar que não era o seu.
Tentava se livrar da timidez que seus gestos descompassados e a mania de colocar o cabelo atrás da orelha denunciavam, e então se postava ali, naquele ambiente doentio de pouco raciocínio e muita compulsão.
Percebia que eles se guiavam pelo cheiro, pelas vontades, pela primeira idéia que brotava em suas cabeças. Percebia como eles eram, ali, quase que animais em período de acasalamento, fazendo o que cabia - e também o que não convinha - para chamar a atenção do próximo, e arranjar companhia para o que restava da noite.
Percebia como tudo era patético ao ponto de fazer o estômago embrulhar.

Acontece que, pelo menos naquela hora, embalada pela péssima música que tocava, e hipnotizada pelos movimentos coreografados da garota à sua frente, ela só queria jogar essa sua consciência no lixo e ser carne, ser suor e saliva, como todos aqueles animais que se postavam em seu habitat natural.

Sem comentários:

Enviar um comentário